Em muitas situações na vida nos deparamos com difíceis decisões. Essas decisões são difíceis, muitas vezes por causa das consequências que podem ser amplas e de grande impacto. Outras vezes a dificuldade está em compreender todos os parâmetros envolvidos na decisão. Mas muitas vezes a dificuldade não pode ser tão facilmente explicada. É como um bloqueio, um simples medo do que não conhecemos, e que confunde nossa capacidade de raciocínio lógico.
Esse é o caso quando hesitamos ante um desafio. Conhecemos bem o ambiente onde estamos, nos sentimos confortáveis com ele. Mas o desafio nos exige atravessar um túnel. O que haverá do outro lado? Será melhor ou pior? Conseguirei sobreviver?
Profissionais técnicos, quando finalmente ascendem à gerência, vivem esse dilema. Um analista de sistemas, por exemplo, pode ser muito bom em elicitar requisitos, projetar bancos de dados, e desenvolver sistemas. Fazendo essas coisas ele se sente em casa. Mas se sairá bem em gerenciar pessoas, em negociar recursos, em estabelcer políticas e diretrizes, em potencializar o negócio através da TI? Atravessar esse túnel pode provocar um frio na espinha, especialmente ao se pensar na dificuldade de um eventual retorno, o que pareceria um retrocesso.
Em casos assim pode ser muito difícil se livrar dos grilhões da operação. Diante das difculdades do novo desafio o profissional sente vontade de voltar ao ambiente que lhe traz conforto e paz, quase uma saudade. Alguns querem continuar desenvolvendo sistemas, mesmo nos dias de hoje, quando os sistemas de mercado atingiram alto nível de maturidade, custos aceitáveis, e grande flexibilidade através de parametrizções e customizações. É sair da gestão e voltar para a operação, para atividades de pouco valor agregado.
Mas se trata de um processo, com fases. No início vem a negação, a defesa da continuidade operacional. As desculpas são as mais diversas. 'Nós somos muito especiais, e nenhum sistema nos atende'. 'Construir nosso próprio sistema é demonstração de competência'. E muitas outros. Eu entendo que pode haver sistemas muito especialistas que precisam ser desenvolvidos sob a supervisão da própria organização, mas mesmo nesses casos, há excelentes fábricas de software no mercado, do Brasil e do mundo. É possível contratar o desenvolvimento da Índia ou de Israel, a bons preços e com CMMI nível 5.
Uma decisão deste tipo é na verdade uma decisão do negócio, e não apenas da TI, porque a TI faz parte do negócio. Assim como qualquer outra decisão de negócio ela precisa se sustentar a longo prazo, precisa ser o melhor investimento financeiro, com o melhor retorno sobre o investimento (ROI), e acima de tudo, precisa agregar valor ao negócio, o que geralmente vai muito além das meras funcionalidades que o sistema possa oferecer.
A maioria, no entanto, evolui. Entende que a TI é apenas uma parte da organização, do negócio. Desenvolve uma visão ampla e sistêmica da organização, sua missão, seus valores e seus processos. E passa a contribuir em um nível acima. Em vez de assentar tijolos, passa a projetar a casa, a pensar em questões muito mais nobres. Em vez de pensar se a massa tem a quantidade correta de cimento e de areia, preocupa-se com a funcionalidade da obra a ser construída, no porquê de sua criação, a que pessoas ela vai abrigar, e que diferença ela pode fazer na vida dessas pessoas, da comunidade, ou talvez até de um povo.
Sei que 'largar o osso', como diz o adágio popular, pode ser muito difícil. Mas vale a pena tentar.
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