segunda-feira, 26 de julho de 2010

Cloud Computing - Novidade?


É possível encontrar pelo menos dez definições para o termo "cloud computing", e algumas muito diferentes entre si. De qualquer modo, imagine o seguinte: um ambiente tecnológico, que você não precisa saber direito onde fica, e que oference uma enorme capacidade de processoamento e de armazenamento, e que ainda pode ser fatiado em diversos servidores virtuais de diferentes capacidades. Agora, imagine se você pudesse acessar as aplicações e dados, nesse ambiente, de qualquer lugar da empresa a qualquer hora do dia ou da noite.

Se você pensou que eu estava definindo "cloud computing", está redondamente enganado. Eu estava falando de uma tecnologia muito utilizada na década de 1970, e que ainda é razoavelmente utilizada hoje: os mainframes. Sim, aqueles computadores enormes, geralmente da IBM, que permitiam tudo isso que eu falei.

Bem, mas está absolutamente correto se pensou que eu estava definindo "cloud computing", porque na verdade, a proposta é exatamente a mesma. O que aconteceu foi o seguinte: tínhamos esses mega ambientes tecnológicos fatiáveis por virtualização, que centralizavam tudo e as pessoas acessavam de diversos lugares. Aí, vieram os microcomputadores, muito baratos, e todo mundo passou 20 anos migrando tudo para eles. O resultado foi uma babel de sistemas, com dados pouco ou nada integrados, probelmas para acessar essas informações, e muitas perdas porque ninguém fazia backup. Chegou-se a um ponto em que tudo virou um caos. Então começamos a centralizar tudo de novo em ambientes super poderosos e super caros, e demos um nome bonitinho para esses ambientes; coisa de gente boa em marketing.

Na verdade, antes de inventarem esse nome bonitinho, as empresas já estavam fazendo isso, ou seja, centralizar seus ambientes tecnológicos. Primeiro vieram os servidores, na década de 1990, depois os centros de processamento de dados, como eram chamadas as salas dos servidores, e por fim adotamos um nome em inglês para ficar mais sofisticado: datacenter.

A principal diferença do uso dos mainframes para o chamado "cloud computing", é a forma de disponibilização, que agora é pela Internet, possibilitando o acesso a partir de virtualmente qualquer lugar do mundo. Mas isso as empresas também já faziam há um bom tempo, permitindo acesso a aplicações pela intranet e ao correio eletrônico pela web. Faltava apenas permitir o acesso aos documentos, que muita gente andou fazendo via Exchange Server ou por VPN, por exemplo.

De fato, não é uma nova e fantástica tecnologia revolucionária, conceitualmente disruptiva. É conceito velho, com roupa nova. O que é muito bom para quem vende, porque tudo que foi carimbado como "cloud computing" passou a vender mais.

Tem gente que passou, inclusive, a vender as próprias capacidades ociosas de processamento e armazenamento, o que pode ser, de fato, um bom negócio. Salvo os problemas de confidencialidade, integridade e disponibilidade de informações que são mais prováveis em um modelo como esse.

O importante é fazer bom uso de toda e qualquer tecnologia em benefício do negócio. Uma visão equivocada da tecnologia pode promover a construção de uma expectativa irreal, e da necessidade de investimentos acima do necessário, ou mesmo desnecessários. Pode ainda nos levar a adotar ao uso de modelos tecnológicos não benéficos ao negócio da organização na qual atuamos; apenas porque todo mundo está dizendo.

Não se preocupe, não sou contra novidades, ou mesmo contra a adoção da chamada tecnologia de "cloud computing". Alerto apenas para o fato de que ao propor e adotar tecnologias, estamos alterando e eventualmete criando importantes relações, sejam de trabalho, com clientes, com fornecedores e concorrentes. Assim como canja de galinha, cautela (análise de viabilidade, análise de risco, análise de investimentos, análise estratégica) não faz mal a ninguém.

E afinal de contas, será que essa tecnologia é realmente novidade?